quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Eclipse


 
O amor de Bella e Edward e todas as dificuldades que eles enfrentam por serem tão diferentes um do outro. Nesse terceiro volume, Bella tenta convencer Edward a torná-la imortal, mas o rapaz não tem a mesma certeza de que seria uma boa idéia e vai impor algumas condições para que o desejo de Bella se realize. O tema do amor imortal, do amor que tudo supera e tudo vence, se repete pelas mais de mil páginas somadas de todos os três volumes, o que testa a paciência do leitor. Mesmo assim, é neste Eclipse que os personagens se mostram menos deslumbrados e mais questionadores, mas ainda meio chorões.
Continuam as comparações entre a história de amor de Bella e Edward e romances literários. O escolhido desta vez é O Morro dos Ventos Uivantes, a história de amor de Cathy e Heathcliff, que transcende vida e morte, que supera obstáculos morais e materiais, que é envolta em amargura e vingança. Não é uma história que particularmente admiro.
Durante o livro, episódios do passado são revelados e o enredo se enriquece com detalhes que ajudam o leitor a formar quadros mentais mais nítidos de cada personagem. Ficamos sabendo, por exemplo, como Jasper e Rosalie se tornaram vampiros e também sobre as origens, lendas e a tradição dos habitantes de La Push, reserva florestal vizinha a Forks. Aliás, é impossível não simpatizar muito mais com a missão desses personagens do que com a existência sem propósito do clã de vampiros.
A narrativa se desenrola com muito mais ação, embora Bella ainda insista em fazer digressões. É compreensível que algumas passagens tenham esse cunho intimista, já que o livro é narrado em primeira pessoa. Bella continua tentando se fazer de mártir, tentando atribuir a si toda a culpa pelo que acontece em Forks, o que me irrita profundamente desde Lua Nova e me fez saltar alguns parágrafos durante a leitura. Na mesma esteira, Edward, que antes era bastante racional quanto ao relacionamento, passa também a se culpar pelos riscos que Bella corre. Em alguns momentos, tive vontade de oferecer um chicotinho para que a autoflagelação fosse completa.
Por outro lado, que grata surpresa é a evolução de Jacob Black. Taí um cara bacana. O personagem foi introduzido em Lua Nova como um amigo de família de Bella. Dois ou três anos mais jovem que a protagonista, o primeiro retrato de Jacob foi o de um adolescente bastante brincalhão e feliz com a atenção que recebia de Bella. Neste Eclipse, passou da condição de ombro amigo tapa-buraco para o motivador de um triângulo amoroso sobrenatural.
Jacob é passional, forte, um entusiasta pela vida, bem-humorado e... humano. O livro mostra como a amizade de Jacob por Bella aos poucos se transforma em um amor intenso, real, possível, uma alternativa para Bella. É a primeira vez que ela percebe que ela tem uma escolha, que ela pode continuar vivendo em vez de morrer nos braços de Edward para começar de novo.
Algumas coisas me parecem pouco verossímeis em toda a saga Crepúsculo como, por exemplo, o amor reciprocamente incondicional de Bella e Edward. Talvez se explique pela pouca idade dos dois – quer dizer, tecnicamente, Edward tem 107 anos, mas ele parou nos 17 –, mas justamente por isso é que acho que o tom é exagerado. A verdade é que tendo a acreditar em algo que minha tia-avó dizia: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. Acho que falta a Bella e a Edward senso de realidade, falta pé-no-chão, qualidades que abundam em Jacob Black. O rapaz adapta-se impressionantemente rápido e fácil à sua nova condição de lobisomem e consegue enxergar racionalmente todos os aspectos da situação em que o amor que sente por Bella o colocou.
Outro aspecto é a relutância de Edward em fazer sexo com a namorada. Tudo bem, o rapaz nasceu e foi criado no começo do século 20, época em que sexo deveria ser apenas marital e para fins reprodutivos. No entanto, cem anos depois, é de se esperar que o pensamento dele tenha se ajustado à contemporaneidade. A presença marcante desse tipo de obrigação moral, no entanto, pode tem origem nos valores religiosos da autora, que é mórmon.
A terça parte final, porém, compensa todos os senãos apontados anteriormente. O ritmo da narrativa se intensifica e o embate entre os vampiros da família Cullen, o grupo de lobisomens de que Jacob faz parte e o exército de criminosos que estava apavorando Seattle é o ponto alto do livro e deixa os leitores ansiando pelo desfecho que só virá em Amanhecer, o último livro da série.

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